Como dois prédios iguais podem ser tão diferentes! Tive de olhar bem para reparar que eram fachadas idênticas! Basta uma alteração cromática para que estas fachadas pareçam provenientes de prédios que nada têm a ver um com o outro! Interessante. Estas fachadas fazem-me lembrar, com as devidas distâncias, uma arquitetura mais holandesa, e sabendo (graças a ti e à tua pesquisa) que a proveniência azulejar do Rio é provavelmente holandesa, com outros países à mistura (o que muito me admirou), já não fico admirado por esta familiaridade. Manel
Pois é, você tem toda razão. E o interessante é que no tocante aos azulejos (que ainda não tenho pistas de onde seriam) a variação nem é tão grande; apenas numa onde é rosa no outro é vinho, no mesmo padrão de zig-zag. Nestes sobrados o que mais muda são as cores das portas, janela e detalhes da fachada. A arquitetura do Rio de Janeiro, especialmente no período dito eclético, por ser uma mistura de gêneros, muitas vezes (estes sobrados pendem mais para o lado do art nouveau), é um grande mix de influências. E se não me engano, nesta época, embora o modelo fosse a França, houve vários arquitetos italianos trabalhando na cidade, o que tornou este pastiche-mix ainda mais louco. Posso estar falando um monte de besteiras. Espero que o Raul, que entende mais de arquitetura, posso nos ajudar aqui. abraços!
Estes sobrados são tipicamente Art Nouveau, da época da abertura da Avenida Gomes Freire, entre as suas duas irmãs paralelas bem mais antigas, a Rua do Lavradio e a Rua dos Inválidos. O art nouveau é um estilo internacional, mas de um tempo em que Paris era a capital cultural do mundo. E este estilo novo é uma realização, ou reinterpretação, mais solta e mais inventiva do estilo Beaux Arts, mais rígido e acadêmico, que marcava a imagem da cidade desde as reformas de Haussman, em meados do século XIX. Em outras ocasiões já mencionei o fato de que rejeito a ideia de que haveria um período ou um estilo eclético. Acho que o ecletismo é apenas uma ruptura com a ortodoxia estilística, que pode ocorrer em qualquer época ou estilo. O art nouveau, em particular, era muito aberto a estas rupturas, e portanto encontramos dentro deste estilo, construções que eram efetivamente ecléticas: os (sub-) estilos neo-grego, neo-romano, neo-egípcio, mourisco, que conviveram na mesma época e muitas vezes são encontrados juntos na mesma construção. O mesmo pode ser dito do estilo Art Déco, que o sucedeu, e que embora buscando uma estética mais enxuta e geométrica, além de abrigar seu próprio neo-egípcio, deu ocasião ao aparecimento de (sub-) estilos como o neo-chinês, o neo-hitita, o neo-asteca, o neo-inca e, no Brasil, o marajoara. Estes sobrados da Gomes Freire que poderiam, por quase tudo, estar em Oslo, Alexandria ou Hanoi, tem entretanto uma característica típicamente carioca, os arcos em pedra-de-galho. E não somente pelo material, mas também pela confecção. Mas observe porém que, numa construção mais antiga, do estilo neo-clássico imperial, eles apareceriam idênticos, e simetricamente distribuídos na fachada e com uma organização igual ou muito semelhante nos dois andares do prédio.
Obrigado, amigo Raul, por sempre completar com seus conhecimentos de arquitetura as postagens deste blog. Concordo com você que os arcos em pedra-de-galho são o grande diferencial da arquitetura carioca, e de certa forma, uma continuidade do elemento português, mesmo quando nos distanciamos de Portugal, e tentamos ser Paris. E outra coisa que, no meu amadorismo e falta de embasamente como você possui, eu julgo tipicamente carioca, desde muito antes dos ecléticos, sejam eles quais forem, mesmo ainda em períodos colonais ou (neo) clássicos, é uma certa liberdade para subverter o cânone, e agregar algo de lúdico na construção, seja no "zig-zag" dos azulejos retangulares coloridos, ou a mistura de padrões e nacionalidade de azulejos e telhões, às vezes quebras jocosas de uma simetria que deveria ser mais rigorosa, etc. abraços!
Você tem toda razão quanto a forma lúdica na disposição dos azulejos, que eu não mencionei pelo fato de que você já havia levantado esta questão em outras ocasiões, e por não ser específica destes sobrados, nem caraterística exclusiva dos imóveis de estilo Art nouveau.
Como dois prédios iguais podem ser tão diferentes! Tive de olhar bem para reparar que eram fachadas idênticas!
ResponderExcluirBasta uma alteração cromática para que estas fachadas pareçam provenientes de prédios que nada têm a ver um com o outro! Interessante.
Estas fachadas fazem-me lembrar, com as devidas distâncias, uma arquitetura mais holandesa, e sabendo (graças a ti e à tua pesquisa) que a proveniência azulejar do Rio é provavelmente holandesa, com outros países à mistura (o que muito me admirou), já não fico admirado por esta familiaridade.
Manel
Pois é, você tem toda razão. E o interessante é que no tocante aos azulejos (que ainda não tenho pistas de onde seriam) a variação nem é tão grande; apenas numa onde é rosa no outro é vinho, no mesmo padrão de zig-zag. Nestes sobrados o que mais muda são as cores das portas, janela e detalhes da fachada.
ExcluirA arquitetura do Rio de Janeiro, especialmente no período dito eclético, por ser uma mistura de gêneros, muitas vezes (estes sobrados pendem mais para o lado do art nouveau), é um grande mix de influências. E se não me engano, nesta época, embora o modelo fosse a França, houve vários arquitetos italianos trabalhando na cidade, o que tornou este pastiche-mix ainda mais louco.
Posso estar falando um monte de besteiras. Espero que o Raul, que entende mais de arquitetura, posso nos ajudar aqui.
abraços!
Oi, Fábio e demais amigos azulejófilos,
ResponderExcluirEstes sobrados são tipicamente Art Nouveau, da época da abertura da Avenida Gomes Freire, entre as suas duas irmãs paralelas bem mais antigas, a Rua do Lavradio e a Rua dos Inválidos. O art nouveau é um estilo internacional, mas de um tempo em que Paris era a capital cultural do mundo. E este estilo novo é uma realização, ou reinterpretação, mais solta e mais inventiva do estilo Beaux Arts, mais rígido e acadêmico, que marcava a imagem da cidade desde as reformas de Haussman, em meados do século XIX. Em outras ocasiões já mencionei o fato de que rejeito a ideia de que haveria um período ou um estilo eclético. Acho que o ecletismo é apenas uma ruptura com a ortodoxia estilística, que pode ocorrer em qualquer época ou estilo. O art nouveau, em particular, era muito aberto a estas rupturas, e portanto encontramos dentro deste estilo, construções que eram efetivamente ecléticas: os (sub-) estilos neo-grego, neo-romano, neo-egípcio, mourisco, que conviveram na mesma época e muitas vezes são encontrados juntos na mesma construção. O mesmo pode ser dito do estilo Art Déco, que o sucedeu, e que embora buscando uma estética mais enxuta e geométrica, além de abrigar seu próprio neo-egípcio, deu ocasião ao aparecimento de (sub-) estilos como o neo-chinês, o neo-hitita, o neo-asteca, o neo-inca e, no Brasil, o marajoara.
Estes sobrados da Gomes Freire que poderiam, por quase tudo, estar em Oslo, Alexandria ou Hanoi, tem entretanto uma característica típicamente carioca, os arcos em pedra-de-galho. E não somente pelo material, mas também pela confecção. Mas observe porém que, numa construção mais antiga, do estilo neo-clássico imperial, eles apareceriam idênticos, e simetricamente distribuídos na fachada e com uma organização igual ou muito semelhante nos dois andares do prédio.
Abraços,
Raul.
Obrigado, amigo Raul, por sempre completar com seus conhecimentos de arquitetura as postagens deste blog.
ExcluirConcordo com você que os arcos em pedra-de-galho são o grande diferencial da arquitetura carioca, e de certa forma, uma continuidade do elemento português, mesmo quando nos distanciamos de Portugal, e tentamos ser Paris.
E outra coisa que, no meu amadorismo e falta de embasamente como você possui, eu julgo tipicamente carioca, desde muito antes dos ecléticos, sejam eles quais forem, mesmo ainda em períodos colonais ou (neo) clássicos, é uma certa liberdade para subverter o cânone, e agregar algo de lúdico na construção, seja no "zig-zag" dos azulejos retangulares coloridos, ou a mistura de padrões e nacionalidade de azulejos e telhões, às vezes quebras jocosas de uma simetria que deveria ser mais rigorosa, etc.
abraços!
Você tem toda razão quanto a forma lúdica na disposição dos azulejos, que eu não mencionei pelo fato de que você já havia levantado esta questão em outras ocasiões, e por não ser específica destes sobrados, nem caraterística exclusiva dos imóveis de estilo Art nouveau.
ResponderExcluirabraços!