atualizado em: 12/08/2024
Estou a cada dia mais convencido de que a maioria dos azulejos de padrão do século XIX que ainda podem ser encontrados pelo Centro do Rio de Janeiro são holandeses, ao contrário do que muita gente pensa. Talvez por uma inércia cultural, tendemos a achar que tudo o que é antigo aqui é lusitano.
Comecei esta caçada fotográfica dos azulejos antigos pelo Centro do Rio de Janeiro como uma tentativa de manter minha ligação afetiva com Portugal, buscando perto de mim este elemento tão significativo da cultura lusitana, e acabo por descobrir outra realidade.
Já publiquei aqui vários exemplos, que em conversas informais com os frequentadores lusitanos deste blog, confrontávamos esta questão, se os azulejos seriam portugueses ou holandeses. Minha suspeita de que poderiam ser holandeses partia de dois fatos:
1) vários azulejos de padrão que encontro por aqui não são vistos em Portugal (com a grande excessão do "Estrela e Bicha", que é muito comum em Portugal, mas que foi também fabricado em abundância na Holanda);
2) milhares de cacos de azulejos que ajudei a limpar e catalogar, oriundos de uma escavação arqueológica no Centro do Rio de Janeiro, onde até 1922 foi a praia de Santa Luzia, aterrada com o material do desmonte do Morro do Castelo, são todos, segundo a professora Dora Monteiro e Silva de Alcântara, maior autoridade brasileira no assunto, de origem holandesa.
E hoje, me ocorreu procurar na própria internet algum bom catálogo de azulejos holandeses, e bastou procurar "Nederlandse tegel", e BINGO! O que não me falou foram referências. E com estas, consegui confirmar que vários dos azulejos encontrados pelo Centro do Rio de Janeiro, que tenho publicado aqui neste blog, e que já fotografei, mas ainda não publiquei, são confirmadamente de origem holandesa.
Estes dois imponentes sobrados apresentam apenas 2 tipos de azulejos: um com o padrão marmorizado, complementado por uma cercadura em gregas.
O padrão em destaque acima, conhecido como "Marmer" (mármore), "Marmerde" (marmoreado), "Albast" e "Albasterde" (alabastro), segundo o livro "De Nederlandse Tegel / The Dutch Tile", de Jan Pluis (a maior "bíblia" no assunto), foi produzido com muitas variações entre 1780 e 1930, na região de Harlingen, Makkum e Utrecht, Países Baixos. Abaixo, o padrão em uma foto obtida de um catálogo online de azulejos holandeses antigos:
O azulejo de cercadura em gregas, em uma foto obtida do mesmo catálogo online de azulejos holandeses antigos:
Este padrão, conhecido como "Blokrand" (borda de blocos), segundo o livro "De Nederlandse Tegel / The Dutch Tile", de Jan Pluis (a maior "bíblia" no assunto), foi produzido entre 1850 e 1930, na região de Harlingen, Países Baixos.
Estes azulejos foram também abundamente encontrados nos cacos da escavação arqueológica da antiga praia de Santa Luzia, e já tinham sido, como quase todos os cacos, identificados pela Professora Dora como sendo holandeses.
Caro Fábio,
ResponderExcluirmantenho uma coleção (cerca de 1.000 peças),de azulejos (portugueses,
alemães,franceses,ingleses,belgas,holandêses,espanhois),ptincipalmente
dos séculos XVII ao XX.A ilustre professora Dora Alcantara esteve em minha exposição no Palacete Pinho(Belém).Gostaria de conhecer sua obra..
Rosa Lúcia Soares.
Olá Rosa, seja bem vinda!
ExcluirNão entendi o que você quer dizer por "minha obra".
abraços!