sábado, 9 de março de 2013

Saúde IId

Esta semana, quando fui ao novo Museu de Arte do Rio (MAR), aproveitei para ver com estava a reforma deste prédio ali perto, que já foi assunto de três postagens anteriores aqui no blog (1) (2) (3).

De longe comecei a ficar animado, pois o prédio, bem como o seu vizinho, que antes estavam em estado deplorável, estavam já prontos, sem as telas de proteção das obras, mas foi só eu me aproximar um pouco mais para perceber que a coisa não era tão feliz assim.


Primeiro: o prédio, de 1843, vai ser ocupado por uma boate! Imagina o tipo de dano que o som alto e "bate-estaca", junto com a circulação frenética de pessoas o tempo todo, pode causar à estrutura de imóvel tão antigo. Mas isto não era o pior, acreditem!


Foi só chegar em frente ao prédio para perceber que havia algo muito errado com os azulejos do primeiro piso:


Vejam mais de perto, e comparem os azulejos holandeses originais no segundo piso, e esta "coisa" que colocaram no primeiro piso:


Eu até esperei para achar fotos anteiores, antes ou durante a reforma, para poder verificar se os azulejos estranhos já estariam lá antes desta reforma. Mas não! Nem precisei ir longe. Basta ver as minhas fotos da postagem anterior, no início da reforma:



Mesmo que por debaixo da tela, é claro que estes azulejos não são os mesmos que estão lá agora!


Vejam agora esta imagem do Google Street View, de antes da reforma (recomenda ampliar a imagem). Os azulejos estão muito pichados, mas os do segundo pavimento também estavam, e foram devidamente limpos. Reparem outro detalhe, tanto na imagem abaixo como nas duas acima -- há azulejos de cercadura em torno da cantaria das portas.


Vejam no detalhe abaixo as setas indicando onde havia as cercaduras, e contornado em vermelho a pequena área onde havia faltas, que poderia ter sido simplesmente completada com réplicas (preferencialmente BOAS réplicas).


E vejam como está agora:


Não há mais a cercadura em torno da cantaria das portas do primeiro pavimento!


azulejos de um catálogo online de azulejos antigos holandeses, similares aos
usados na cercudura vista nas fotos anteriores (primeiro piso).

Este padrão, conhecido como "Blokrand" (borda de blocos), segundo o livro "De Nederlandse Tegel / The Dutch Tile", de Jan Pluis (a maior "bíblia" no assunto), foi produzido entre 1850 e 1930, na região de Harlingen, Países Baixos.

Vejam esta imagem, de um vídeo da BBC, gravado em 2012, pouco antes da reforma: os azulejos do segundo pavimento também estavam severamente pichados, mas foram devidamente limpos, ao invés de terem sido removidos e substituídos por uma reprodução muito mal realizada:


A única boa novidade que percebi nesta nova visita ao prédio foi este azulejo de cercadura usado apenas abaixo dos balcões das portas do segundo pavimento:


Ela já foi vista aqui no blog, em duas ocasiões: em um belíssimo prédio nesta outra postagem, em outra combinação de cores (que por sinal creio que também possui azulejos do padrão "Estrela e Bicha ("Slangster" em holandês; "Estrela e Serpente") produzidos para reposição recentemente, mas cujo resultado é muito superior ao visto nesta postagem), e no silhar do vestíbulo do Mosteiro de São Bento.

Entrei em contato com o mestre da azulejaria holandesa Jan Pluis, e ele me confirmou que este azulejo é também holandês, e que está representado no livro de modelos de por volta de 1870 da fábrica de Jan van Hulst, que ficava em Harlingen. Menos um mistério sobre os azulejos do Rio de Janeiro. O nome do padrão seria "Driekwart Engelse" (3/4 inglês), fabricado em Harlingen entre 1860 e 1930.


Abaixo, mais uma foto onde se pode comparar os azulejos originais com as reproduções mal feitas. Gosto desta foto também por ser a parte do prédio onde podemos ver ao mesmo tempo as três cercaduras usadas no mesmo.


Abaixo vemos um pormenor da cercadura usada no segundo pavimento. Nesta foto podemos ver que o azulejo de cercadura tem o mesmo comprimento do azulejo de padrão:


foto de azulejo de cercadura similar ao que vemos na foto acima,
de um catálogo online de azulejos antigos holandeses.

 Resolvi terminar a postagem com este pormenor do alto do edifício, para não terminá-la numa nota muito triste. Fico feliz com a recuperação do prédio, quero acreditar que agora, ao menos estruturalmente ele está salvo, mas muito decepcionado com o que fizeram no primeiro pavimento.

2 comentários:

  1. Macacos me mordam se a grega do último piso não é portuguesa.

    Já vi que o meu próximo trabalho para casa é fotografar e medir gregas nos prédios lisboetas.

    Abraços

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    1. Olá Luis,
      Estes aí, como eu não pude medir, por razões óbvias (rs), não posso garantir que sejam holandeses, mas eu acho muito provável, pois não apenas eu já o encontrei em catálogos e livros de modelos holandeses, como também eles são do mesmo tamanho dos azulejos de padrão, que são sem sombra de dúvidas holandeses.
      Vou incluir aqui na postagem fotos em detalhes da cercadura que já estavam no post anterior.
      abraços!

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