Perdoem o estranho ângulo da foto, mas o prédio é relativamente alto (4 pisos) para a largura da rua, que segue o traçado do período colonial, e mal dá para passar um carro, e as calçadas são quase nada de largas, pois originalmente sequer havia calçadas no Rio Colonial. Parecem até ruelas medievais, de tão estreitas!
Reparem o canto superior direito da foto acima: este prédio é vizinho de parede ao outro prédio na rua Teófilo Otoni apresentado no post exatamente anterior a este.
Reparem o canto superior direito da foto acima: este prédio é vizinho de parede ao outro prédio na rua Teófilo Otoni apresentado no post exatamente anterior a este.
Nesta foto podemos ver claramente o craquelado devido à idade do azulejo, e falhas nas bordas, que podem ser devidas à sua remoção de uma outra fachada anterior. |
A cercadura usada na parede do pavimento térreo também foi usada para emoldurar todas as janelas dos pavimentos superiores.
Estes azulejos, tanto o de padrão, como o de cercadura, como vimos no post anterior sobre o mesmo prédio, são velhos conhecidos, que fotografei em vários pontos de Lisboa. Através de outros blogs eu já pude observar também que ao menos o azulejo de padrão é comunm também em outras localidades em Portugal, como Santarém e Odivelas.
Odivelas |
Lisboa |
a cercadura, igual à do imóvel em questão, aqui em foto feita em Lisboa. |
variação cromática, fotografada também em Lisboa. |
Sobre o azulejo de cercadura, no site da Rede Temática em Estudos de Azulejaria e Cerâmica, de Portugal, encontramos a seguinte descrição e demais informações (infelizmente sem indicar uma possível manufatura):
Agora a SURPRESA!
- Padrão policromo composto por sequências de linhas quebradas e alternadas de paralelogramos, em tons também alternados de laranja e azul.Com isto, creio que pode-se atribuir com muita segurança a origem portuguesa para estes azulejos.
- Cronologia: 1835 | 1910
- Cerâmica/Século XIX
- Faiança/Estampilhagem
Agora a SURPRESA!
Uma coisa que não era possível ver nas imagens do Google Street View, pois estão muito altos para as câmeras deste serviço, era este friso formado por uma moldura de um outro modelo de azulejo de cercadura:
Na verdade, é um detalhe tão discreto, que me escaparia aos olhos, se não fosse o zoom de minha máquina fotográfica.
O que me espanta é o traço fluido usado nestes azulejos. Isto, e o tipo de desenho apresentado me faz pensar em algumas cercaduras de acantos, como a abaixo:
Aí me lembrei que no post anterior sobre este mesmo imóvel o Raul Félix, grande conhecedor de arquitetura antiga, comentou que ele acredita que este prédio seja um "falso antigo" dos anos 1980. Lá eu respondi que mesmo que o prédio seja um "falso antigo", os azulejos me parecem autênticos, de época. Ou seja, mesmo que o prédio seja recente, os azulejos foram reaproveitados de uma ou mais construções antigas demolidas. E aí me ocorreu uma teoria talvez louca, na qual os azulejos que estão na moldura do terraço do prédio (e aí eu dou crédito ao comentário do Raul - prédio com terraço na virada do século XIX para XX e início do século XX? pouco provável, fora o pé direito baixo nos andares - este prédio, mesmo com quatro paviemtnos, é mais baixo do que o ao lado, com apenas três) poderiam ter sido aproveitados de alguma igreja antiga carioca que fora demolida, e assim, seriam bem mais antigos do que os demais azulejos de fachada que costumamos encontrar no Rio de Janeiro. Nesta hipotética igreja eles estariam não no exterior, naturalmente, mas servindo de moldura a alguma painel ou tapete, que teve outro destino, ou mesmo se perdeu.
Enfim, vou continuar procurando em minhas fotos em Portugal, ou online, alguma ocorrência de um azulejo igual ou parecido com este. Agradeço se algum dos meus seguidores portugueses puderem dar algum palpite sobre estes misteriosos azulejos.
Grande Fábio,
ResponderExcluirQuando, no outro post, mencionei o fato de que este imóvel seria provavelmente, um falso antigo, baseei-me tão somente na aparência geral do prédio, com pés direitos baixos, portais afastados mas unidos pelas sacadas, ausência de beiral ou platibanda. Enfim, um conjunto de fatores atípicos para um prédio antigo autêntico. E um pouco talvez, na vaga memória de ter visto casarões antigos serem substituídos por uma construção nova naquelas redondezas. Agora, vendo com cuidado as fotos do novo post, e examinando detalhadamente o imóvel no Google StreetView posso dizer que estou ainda mais convicto. Repare por exemplo, os cantos dos portais de pedra com elementos cortados a 45 graus, algo completamente inconcebível num imóvel antigo, em que as paredes tinham função estrutural. Além disto (excetuando os elementos de cantaria do térreo, que parecem ser material legítimo, de demolição), os portais de pedra não parecem consistir de blocos maciços como se usava sempre e sim placas finas, como se usa hoje em dia nas restaurações. Mais ainda, o alinhamento do prédio em relação à calçada é recuado, seguindo o padrão dos imóveis mais novos da rua, o que deve ser atribuído a algum plano de alinhamento (PA) mais recente. No que diz respeito aos azulejos, tendo a achar que são réplicas, embora não os tenha examinado de perto. Considerando os azulejos do térreo, se o prédio é novo, seria muito difícil conseguirem um painel tão extenso do mesmo azulejo em demolições. Além disto, não parecem ter lascas, pedaços quebrados ou trincados, como seria de se esperar de um material autêntico. (Estou me guiando pelo que aparentam nas fotos. Você, que os examinou de perto, me confirme ou corrija). A ideia de que são réplicas também explicaria o padrão muito antigo, inverossímil, dos azulejos da parte alta.
Abraços,
Raul.
Oi Raul,
ExcluirEu já tinha me convencido de sua teoria de que este prédio seria um pastiche, e agora com este elenco de detalhes suspeitos que você apresentou, não tenho mais dúvida alguma! Mas quanto aos azulejos, se forem réplicas, são as melhores que já vi até hoje, pois são perfeitas na texturas da pasta cerâmica, brilho do vitrificado, cor dos vernizes, dimensões das peças, proporções dos elementos das estanholas, e acima de tudo, na técnica da pintura dos mesmos. Está muito perfeitamente igual aos "originais" portugueses. Todas as réplicas que já vi pela cidade pecam geralmente aqui: não há marcas de pincel, não há falhas e pequenos erros de vazamento nos moldes e também de alinhamento dos vários moldes, o que denunciar que as réplicas foram feitas com alguma técnica de impressão, e não com estanhola e pincel. Os deste prédio tem todas as características de terem sido pintados com a técnica original. Penso que se forem réplicas, foram feitos com tal capricho, que teriam custado mais caro que originais removidos de alguma parede.
Sobre a quantidade, isso não é um problema. Aquele antiquário de Copacabana tem alguns padrões em quantidades absurdas! Mas provavelmente estes aí, sendo originais, não vieram de antiquário, claro, mas direto de outro imóvel.
Quanto às lascas: sim elas estão lá! Veja o close-up que eu coloquei dos azulejos, que escolhi ao acaso quando fiz o post: há várias lascas. Mais até do que o close-up do mesmo azulejo em Lisboa (4 fotos abaixo). Eu fiz muito mais fotos do que as publicadas, e fui revê-las, e posso te garantir que há muito azulejo com as bordas cheias de lasquinhas, em alguns casos, "lasconas".
Por sinal, a argamassa usada antigamente era muito mais fácil de remover do que os cimentos prontos de hoje em dia. Eu acompanho o trabalho de uma restauradora de Lisboa (que por sinal veio ver o post a meu pedido, e falou que para ela estes azulejos parecem bastante autênticos, inclusive os do friso), que regularmente desmonta paredes inteiras, sem danificar um azulejos sequer. E ela já comentou que o maior problema para este trabalho é quando se depara com peças recoladas com argamassa nova, do pós-guerra. É quase impossível não estragar os azulejos. Mas com a argamassa antiga, tradicional, usada até finais do séc. 19 e primeiras décadas do séc. XX, a remoção dos azulejos não traz maiores problemas.
Para encerrar, o que me deixa curioso é ainda não ter visto este padrão em qualquer outro imóvel, ou acervo de antiquário, muito embora seja bastante comum em Lisboa. Além disso, não é comum encontrarmos azulehos de Lisboa aqui no Rio, na verdade, mesmo azulejos portugueses é difícil achar! Temos muitos da Holanda e França, mas de Portugal, muito poucos! Mesmo em São Luiz, Manaus e Belém, onde há muito azulejo português, vejo muito da produção do Porto e de Vila Nova de Gaia, mas quase nada da Viúva Lamego ou outras fábricas da região de Lisboa. Isto tudo para apresentar um teoria muito excêntrica, que beira o ridículo, mas vai saber... E se estes azulejos não vieram de algum imóvel demolido no Rio, mas sim, de Lisboa?
abraços!
Só para acrescentar, sobre os azulejos, em particular da padrão e cercadura no térreo:
Excluir- além deles terem sim várias lascas nas bordas, a superfície da placa cerâmica é bastante irregular, não é lisíssima como seria se fosse produção nova; mesmo as bordas não lascadas são um pouco irregulares, e não retas perfeitas. Há inclusive sinais de bolhas e nódulos na camada superficial.
- A glasura está muito craquelada, algo que não acontece com os demais azulejos réplicas de reposição que já vi pela cidade nos outros prédios.
- Há muitas perdas e falhas no verniz e na pintura de vários azulejos, o que não seria de se esperar em azulejos novos, réplicas de reposição.
Olhando esta edificação, e sobretudo lendo o que o teu comentador Raúl refere (não fora ele, ter-me-iam passado alguns pormenores arquitetónicos, e gostei muito de ler o seu comentário pelo rigor e entendimento dos materiais que se infere), creio que terá razão, pois o piso térreo tem materiais de construção (e não me refiro aos azulejos, que esses são evidentes) diferentes dos dos pisos superiores, que me parecem mais recentes.
ResponderExcluirOs blocos de pedra a 45º não eram típicos da construção antiga, mas estou a referenciar-me à arquitetura portuguesa, não à brasileira, da qual conheço muito pouco, pelo que prefiro não me alongar muito neste aspeto.
A banda de azulejo superior também me parece uma réplica, ou então, se forem antigos, terão estado num interior toda a sua vida e, quando retirados, talvez por demolição, tê-lo-ão sido com muito cuidado, o que me custa muito a crer, devido ao que me é dado a ver.
Quando demolem, os materiais aproveitados estão com um aspeto deplorável, com quinas partidas e esbeiçadas, rachas e não assentam de forma tão perfeita quanto estes me parecem.
Serão baseados nas faixas de acanto do século XVIII, creio, mas com um desenho muito mais estlizado.
Parece-me que aqui se tratará de um pastiche fabricado algures no século XX, talvez inícios?
Não me sei reportar à datação quando referida ao Brasil, pois não conheço o suficiente.
O edifício está num estado muito bom, o que é de salientar pela positiva, face ao que tens mostrado. Talvez pela zona onde se encontra, ou sei lá porquê.
Abraços para ti Fábio e fico sempre encantado pela visita ao teu blog
Manel
Olá Manel,
ExcluirO Raul Félix entende muito de arquitetura, em particular arquitetura antiga! Tê-lo aqui no blog é um acréscimo ímpar. Fiz um passeio fotográfico com ele há pouco tempo pela região portuária, e aprendi tanto, mas tanto, que não consegui fixar nem 10% do que ele me falou descrevendo os prédios que admirávamos. Você teriam MUITO assunto para conversar, caso um dia pudessem se encontrar!
O imóvel me parece definitivamente um pastiche, mas provavelmente dos anos 1980 como o Raul comentou num post anterior, principalmente pelo fato de estar recuado em relação aos verdadeiramente antigos, e alinhado aos mais novos, e este tipo de plano de alinhamento é coisa bem mais recente, de anos 1970 ou 1980.
Quanto aos azulejos, comentei bastante acima em minha resposta ao Raul. E repito: se forem réplicas, são excelentes réplicas, muito melhores do que as que já vi em fachadas recuperadas. E as lascas existem!
abraços
Grande Fábio,
ResponderExcluirEstou muito honrado com teus elogios, e sou muito grato por teres criado um espaço em que nós, que adoramos os azulejos e telhões, possamos trocar ideias.
Abraços,
Raul