domingo, 10 de março de 2013

Catete V

postagem original: 03/03/2013
última atualização: 10/3/2013


Voltamos agora ao bairro do Catete. O Catete é um tradicional e histórico bairro do Rio de Janeiro, e já foi sede da presidência da república brasileira, que ficava localizada no Palácio do Catete, que é até hoje principal munumento da região. Assim como a Glória e Santa Teresa, teve um passado nobre, mas hoje em dia é um típico bairro de classe média. Ainda encontramos no bairro vários casarões das últimas décadas do século XIX e início do XX, o seu período de maior luxo. O bairro se tornou importante após o Palácio do Catete se tornar a sede do governo federal em 1897. Tal situação durou até 1960, quando a capital brasileira foi transferida para Brasília.

O Caminho do Catete, hoje rua do Catete, já existia antes da chegada dos portugueses e franceses no Rio de Janeiro, pois relatos muito antigos descrevendo as batalhas entre Portugal e França na região já se referiam ao Caminho do Catete de uma maneira corriqueira. O local era habitado pelos índios tamoios da aldeia Uruçumirim (uruçu=abelha; mirim=pequeno), chefiada pelo por Biraçu Merin.


O casarão, como podemos ver na primeira foto, na verdade são dois prédios geminados e simétricos, cuja fachada quase esconde de quem passa na rua um chalé em seu topo, ainda com elementos remanescentes do seu lambrequim.

Os azulejos da facha são já bem conhecidos aqui no blog, sendo o de cercadura do padrão que, por falta de um nome "oficial" batizei de "Coluna e Fita". Este padrão é extremamente comum aqui no Rio de Janeiro. Já o azulejo de padrão é de um tipo comum no bairro do Catete, como por exemplo, nestes dois sobrados na rua Pedro Américo.



É interessante observar que neste outro casarão no Santo Cristo, a combinação de "Coluna e Fita" e este padrão com as estrelas e linhas torcidas se repete. Interessante pois em um catálogo de 1888 da fábrica holandesa Schillemans, é exatamente assim que os padrões aparecem:


Mas como sabemos, os padrões não eram exclusivos de uma única fábrica, nem mesmo exclusivos de um país. Abaixo vemos o mesmo padrão, em um catálogo de 1890 da fábrica Ravesteyn:


Este padrão parece ser uma variação do "Estrela e Bicha", que é também bem comum no Rio de Janeiro. O interessante é que na Holanda a "estrela" é chamada de "roseta de quartzo". E na descrição do padrão no catálogo do Museu Nacional do Azulejo da Holanda, o que eu chamaria de linha torcida, eles descrevem como "onda diagonal". Segundo este mesmo catálogo, este padrão teria sido produzido na Holanda, Frísia, Makkum e Tichelaar, regiões dos Países Baixos, desde 1750. Na falta de um nome melhor, resolvi batizar informalmente o padrão de "Estrela e Onda".

A novidade que este imóvel nos traz é este padrão visto em quadras, que quando eu fotografei pensei que haviam, por descuido, pintado os pobres de amarelo. Mais tarde, pesquisando nos catálogos, descobri que ele é exatamente assim, com a ornamentação em verde com detalhes manganês sobre um fundo amarelo pálido! Bastante incomum em se tratando de um azulejo holandês.


Este padrão também consta do catálogo de 1890 da fábrica Ravesteyn:


Infelizmente, como no catálogo acima, o catálogo do Museu Nacional do Azulejo da Holanda também não apresenta um nome para o padrão.



Atualização em 6/3/2013:

Acabei de saber por Jan Pluis, autor do livro "The Dutch Tile, designs and names 1570-1930", a "bíblia" do azulejo dos Países Baixos, que o padrão principal da fachada acima se chama "Gekrulde Vierster" (enrolado, ou encaracolado com quatro estrelas).  


Atualização em 10/3/2013:

Jan Pluis me informou por email que o nome do padrão com fundo amarelo e círculo pontinlhado é "Goudlelie" (Lírio Dourado).

Um comentário:

  1. Acho bem interessante o cuidado com o acabamento e com a colocação dos azulejos que eles tinham, por exemplo, logo no canto do prédio o desenho foi seguido mesmo que só uma mínima parte do azulejo fosse utilizada. Enquanto hoje em dia vemos por ai azulejos mal colocados e que raramente respeitam o desenho. Realmente era outra época, outro tem. Abraço.

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