quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Centro XXIV - Mosteiro de São Bento


Quando em 2008 fiz o curso compacto sobre azulejaria antiga no Rio de Janeiro, com a profa. Dora Monteiro Alcântara, vistamos algumas igrejas selecionadas pelo importante acervo de azulejaria. Uma destas foi o fabuloso Mosteiro de São Bento. Durante a visita acabamos conseguindo visitar bem mais do que a Igreja, e tivemos acesso a várias áreas normalmente fechadas ao público. Infelizmente eu não havia levado máquina fotográfica, pois jamais pensei que permitiriam fazer fotos. Pensei errado, e agora só conto com algumas poucas fotos de colegas do curso.


O Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro é um histórico mosteiro localizado no Morro de São Bento, com acesso pela rua Dom Gerardo, 68, no Centro da cidade do Rio de Janeiro. É um dos principais monumentos de arte colonial da cidade e do país.



O Mosteiro de São Bento do Rio de Janeiro foi fundado por monges beneditinos vindos da Baía em 1590. O mosteiro ainda funciona como tal, existindo, a seu lado, um dos estabelecimentos educacionais mais importantes e tradicionais do Brasil: o Colégio de São Bento, fundado em 1858, que formou uma quantidade considerável de personalidades brasileiras, como Pixinguinha, Benjamin Constant, Noel Rosa, Antônio Silva Jardim, Villa-Lobos, entre outros.




A construção do mosteiro foi executado por escravos. As pedras utilizadas como matéria-prima foram provenientes do Morro da Viúva, no atual bairro do Flamengo. Os planos do novo edifício foram traçados em 1617 pelo engenheiro militar português Francisco Frias de Mesquita, segundo a estética maneirista despojada ("chã") vigente em Portugal naquele período. As obras da igreja só começaram em 1633, pela capela-mor e terminou aproximadamente em 1671. O projeto original foi alterado, durante a construção, pelo arquiteto Frei Bernardo de São Bento Correia de Souza e a igreja passou de uma a contar com três naves. O mosteiro anexo à igreja só foi concluído em 1755, com a construção do claustro, projetado pelo engenheiro militar José Fernandes Pinto Alpoim.



A fachada é a do projeto original maneirista, com um corpo central com três arcos de entrada e um frontão triangular. Flaqueiam a entrada duas torres coroadas por pináculos piramidais. Passando os arcos de entrada se encontra uma galilé com azulejos e portões de ferro do século XIX.

Quem quiser saber mais sobre o Mosteiro de Sâo Bento, consulte este link.

Os azulejos abaixo estão no vestíbulo da Igreja de Nossa Senhora de Monsterrat:




São uns azulejos enormes, com uma padronagem muito diferente de tudo que já vi em Portugal e aqui no Brasil. Não sei estimar sua origem. Se estão na Igreja desde que esta ficou pronta, seriam do século XVII, provavelmente segunda metade.



atualização em 28/8/2014

Hoje Frédéric Almaviva, que se apresentou como um especialista sobre azulejos franceses, publicou um comentário aqui nesta postagem, indicando a origem italiana destes "azulejos" acima, que seriam típicos da produção de Nápoles por volta de 1800, inspirados pelos mosaicos encontrados em Pompéia, mas que na verdade não são azulejos, mas lajotas de piso cerâmico.


atualização em 16/5/2016

Procurando um pouco mais por fotos do acervo da Casa Museo Stanze al Genio (Palermo, Itália), finalmente fui capaz de encontrar uma variação cromática dos "azulejos" de padrão acima, o que quase certamente demonstra que tratam-se de peças italianas.





Uma coisa curiosa que vemos no detalhe abaixo é o azulejo de cercadura usado no silhar do vestíbulo -- eles são iguais aos usados em um imóvel da rua do Rosário (veja aqui neste post), e são aparentemente muito mais recentes do que os azulejos de padrão:


azulejos de cercadura iguais aos usados no vestíbulo da Igreja do Mosteiro de São Bento,
fotografados em um imóvel, provavelmente do século XIX, na rua do Rosário.
Por comparação dos dois azulejos acima, pode-se estrapolar que os azulejos de padrão do silhar do vestíbulo tem aproximadamente 22x22 cm, o que é um tamanho bastante incomum.


atualização em 9/03/2013

Segundo o mestre da azulejaria holandesa Jan Pluis, uma versão do padrão do azulejo usado na cercadura no vestíbulo da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate está representada no livro de modelos de por volta de 1870 da fábrica de Jan van Hulst, que ficava em Harlingen, Holanda. O nome do padrão seria "Driekwart Engelse" (3/4 inglês), fabricado em Harlingen entre 1860 e 1930.



As fotos abaixo são da entrada do Claustro e dos corredores internos do Claustro do Mosteiro:






Segundo a Rede Temática em Estudos de Azulejaria e Cerâmica João Miguel dos Santos Simões, de Portugal, o azulejo de padrão principal acima seria do padrão "Camélia", e seria de fabricação portuguesa (Lisboa), entre 1601 e 1660. Já os azulejos de cercadura seriam do padrão "Acantos", e seriam de fabricação portuguesa (Lisboa), entre 1601 e 1630. Ambos são, portanto, os azulejos mais antigos que já publiquei aqui neste blog, e provavelmente será difícil encontrar algo mais antigo que isso na cidade, uma vez que é dito que o uso de azulejo na arquitetura do Brasil começou em por volta de 1630, com a chegada dos holandeses no Nordeste do Brasil, e só bem depois, com os portugueses. Mas levando-se em consideração o período de construção do Mosteiro, que só ficou pronto em 1755, acredito que estes azulejos não sejam do século XVII, como sugere o catálogo da Rede Temática, mas já do XVIII.

Por fim, temos os azulejos da Sala de Leitura do Claustro, que segundo a profa. Dora Monteiro Alcântara, por conta das dimensões, cores e padrões seriam muito provavelmente espanhóis:





atualização em 10/02/2016

Recomendo uma visita a esta nova postagem [>>] para ler sobre as descobertas mais recentes sobre os azulejos do claustro, vistos acima, onde apresento evidências da origem italiana destes "azulejos", que na verdade são lajotas de piso cerâmico. Isto inclusive vai de encontro com a mensagem de 2014 de Frédéric Almaviva, comentada mais acima nesta postagem.


10 comentários:

  1. A igreja é linda e o teu post está muito bem feito e concordo com todas as tuas afirmações.

    Por vezes os azulejos eram deslocados de sítio, às vezes até de edíficio. Aqui aconteceu muito. Julgo que os azulejos da Camélia e do Acanto serão mesmo do Séc. XVII, mas eu também não sou um perito.

    P. S. Adorei o contador com tremidos encastoado na parede. Os contadores com tremidos são vulgares por cá, mas postos numa parede nunca tinha visto

    Abraços

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    1. Obrigado, Luis por sua observação! Maravilha! Não pensei nessa hipótese, dos azulejos terem sido removidos de uma outra construção, e terem acabado por aqui. Este tipo de prática aconteceu por aqui na primeira metade do séc. XX, quando houve imensas demolições no centro da cidade, em função das sucessivas modificações do traçado urbano daquela área, e muitos azulejos foram aproveitados em novas construções.
      abraços!

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  2. Apesar de totalmente diferentes no aspeto, a fachada, afeta ao nosso maneirismo, e àquilo que Kubler designa como "arquitetura chã", tem um arranjo familiar à nossa igreja de S. Vicente de Fora, a qual possui igualmente um arranjo em 3 andares, sendo o último, as torres, e uma divisão de 5 faixas verticais, sendo os 3 centrais, arcarias que dão para uma galilé.
    Como seria de prever, a de S. Vicente de Fora serviu de modelo a toda a arquitetura religiosa que se construiu, quer no Brasil, quer nas Índias ou mesmo em Macau, no período subsequente.
    A de Lisboa, que assenta numa anterior igreja que aí existia, foi iniciada no último quartel do séc. XVI e terminada nos inícios do XVII, e foi construída já em pleno período dos Austrias, quando Filipe (II de Espanha, I de Portugal), talvez por algum descargo de consciência, a dedicou ao seu falecido e malogrado sobrinho, o nosso D. Sebastião, daí as setas que ornamentam todas as superfícies, nomeadamente os capiteis das pilastras, símbolo do martírio do santo com o mesmo nome.
    Quanto aos azulejos da camélia e o friso de acanto, eu colocaria mesmo a hipótese que seriam mesmo do século XVII, talvez provenientes de outro local qualquer anterior, quiçá mesmo de um depósito de azulejo destinado a uma igreja portuguesa que não se construiu, sabe-se lá.
    No século XVIII, o gosto já não se prendia com este tipo de cromatismo, dedicava-se aos azuis joaninos, e estes que apresentas, a serem fabricados neste período, não seria muito plausível que seguissem uma moda que já tinha passado há quase um século, sobretudo quando se trata de uma classe tão preponderante e rica como a religiosa, e ainda por cima a ordem de S. Bento.
    Os azulejos da galilé (muito interessantes, quando vistos de perto), tal como afirmas, não me parecem de todo portugueses. Têm algo da geometrização estilizada muçulmana (bem, o azulejo em si, é proveniente desta civilização, a própria palavra é árabe, sei, mas os motivos decorativos, com o tempo, foram-se afastando do gosto praticado pelos árabes), e não me admiraria se me dissessem que seriam andaluzes, que sei eu, mas não faço nem ideia de onde terão sido originários.
    E esses tremidos construídos, seguramente, no mais puro pau-santo devem ser de qualquer coisa de fantástico, como diz o Luís.
    Desculpa o arrazoado longo, mas gostei imenso de ter visto estas tuas fotografias, pois dão conta de um património simplesmente fabuloso!
    Manel

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    1. Olá Manel,
      obrigadíssimo por sua deliciosa aula!
      Já que você aventou a hipótese dos azulejos do vestíbulo serem anadaluzes, vou comentar que pelo tamanhos deles, algo entre 20 e 22, eu já havia pensando na possibilidade de serem espanhóis, uma vez que é sabido que os azulejos espanhóis eram bem maiores que os portugueses, e já que os da sala de leitura são provavelmente espanhóis, segundo a profa. Dora... Não seria uma hipótese tão improvável.
      Vou tentar achar fotos da sala de leitura para colocar aqui para você, não sei se é fácil, por ser uma área reservada, onde ninguém visita; tivemos uma oportunidade única naquele dia, e eu fui sem máquina fotográfica! :-(
      abraços

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  3. Bonjour de Paris !
    Désolé, je ne peux pas écrire en portugais.
    Merci pour votre blog que je découvre avec grand intérêt.
    Je suis un spécialiste français des carreaux de céramique et je peux vous dire que "os azulejos no vestíbulo da Igreja de Nossa Senhora de Monserrate" sont typiques de la production de Naples vers 1800. Ils sont inspirés par les mosaïques découvertes à Pompéi.
    On peut les voir dans le livre :
    L'arte sotto i piedi. Pavimenti maiolicati dell'Ottocento nella tradizione meridionale.
    Catalogo della mostra. Edizioni del Grifo
    Lecce, Italie, 2000

    Sur l'histoire en images des azulejos :
    www.azulejos.fr

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    1. Hello Frédéric,
      Thank you for stopping by, and thank you very much for your input. I'll check that as soon as I can. Hope you stick around here. There are several french tiles on this blog.
      regards
      Fábio

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  4. Hello,

    I would like to buy one of your picture : azulejo-colonial-10-azulejosantigosrj.blogspot.fr-2012-10-centro-xxvii-rua-do-carmo
    Could you please contact me asap?

    Many thanks and kind regards
    Mélanie
    melaniemelouna@hotmail.com

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    1. Hello Melanie,
      I'm sorry, but that picture is not mine. The link to the original pubblication is there:
      http://www.ibahia.com/detalhe/noticia/continua-em-exposicao-a-mostra-azulejos-de-udo
      regards

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