Ontem quando usava o Google Street View para me preparar para ir a uma reunião na Gamboa, acabei "tropeçando" nestes 2 sobrados geminados do séc. XX (apesar de não haver data na fachada, acredito que sejam imóveis do século passado, comparando-se estes com todos os demais datados como século XX na região), com um revestimento azulejar muito original, e completamente inédito (para mim) aqui no Rio de Janeiro.
Pelas características arquitetônicas mais simples do sobrado da esquerda, e mais elaboradas e ornamentadas do sobrado da direita, tudo me leva a especular que talvez fossem três sobrados, e o que agora é o da direita seria o do centro, e à sua direita haveria um igual e espelhado ao sobrado mais à esquerda, formando uma fachada simétrica bastante comum nestes conjuntos de sobrados geminados construídos simultaneamente.
Os azulejos foram um belíssimo padrão em estilo art nouveau, com desenhos de flores de dente de leão, acompanhados pela bela cercadura que faz um negativo do desenhos das folhas e flores, com um aspecto de mosaico.
Em conjunto e a meia distância, cria-se um belo efeito de padrão de tecido ou de papel de parede. Entretanto, a uma distância pouco maior perde-se o desenho, que vira um salpicado verde sobre branco.
Ao medir os azulejos, obtive 11x11 cm, o que logo me empurra para pensar que talvez sejam franceses. Além das dimensões características (até hoje não encontrei azulejos de 11x11 cm de qualquer outra nacionalidade), a estampilha muito picotada e cheias de detalhes minúsculos também me leva a pensar na França como possível origem dos azulejos.
Porém, uma característica me faltava! Quase sempre os azulejos franceses que encontramos por aqui apresentam "borrão" (flow), como podemos ver no exemplar abaixo, mas como o borrão é sempre no azul cobalto (flow bue), e como no caso dos sobrados em questão temos azulejos pintados em verde e mais recentes (séc. XX provavelmente), talvez o borrão não fosse mais uma "obrigação".
Consultando minhas fontes de referência, encontrei azulejos franceses de 11x11 cm no acervo do Museu do Azulejo da Holanda, que além de serem em cores diferentes do tradicional azul cobaldo e manganês, algumas vezes com amarelo (algo característico também dos azulejos franceses mais encontrados aqui no Rio de Janeiro), são todos com este aspectos de mosaico, em estilo aproximado ao art nouveau, e do período de 1900/1920, o que parece fazer sentido com o período provável de construção dos sobrados.
Além disso, estes azulejos do acervo do Museu do Azulejo da Holanda não provém da tradicional região produtora de azulejos de Devres, Pas de Calais, mas sim de Longwy, Lorena, Meurthe-et-Moselle, na fronteira da França com a Bélgica, próximo a Luxemburgo. Talvez seja esta uma razão a mais para a diferença de técnica e estilo. Abaixo vemos mais um azulejo de Longwy, encontrado em um leilão no Ebay, num verde muito próximo ao dos azulejos dos sobrados em questão, e na minha opinião num estilo bastante próximo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário