No início funcionava na rua Barão de Mesquita, e foi fundado em 1929 por Cândido Gaffrée e Guilherme Guinle. Coube à família Guinle construir e instalar o hospital em terreno adquirido pela família. O aparelhamento e a manutenção do hospital correriam às custas do governo federal.
O Hospital Gaffrée e Guinle foi inaugurado no dia 01 de novembro de 1929. Era o maior e mais moderno da então capital federal, com capacidade para 320 leitos distribuídos por 12 enfermarias e quartos particulares, ambulatórios para um mil atendimentos diários, 12 salas de cirurgia e 2 salas de parto. Tem 21.900 metros quadrados de área construída. O projeto é de autoria do escritório do arquiteto brasileiro Adelstano Soares de Mattos Porto d’Ave (1890-1952), sob a fiscalização e orientação dos médicos Eduardo Rabello e Gilberto de Moura Costa. O Hospital Gaffrée e Guinle foi a primeira construção hospitalar assinada por Porto d’Ave.
Vitral do Instituto de Pesquisa do Hospital Gaffrée e Guinle. Da direita para esquerda, Louis Pasteur, Oswaldo Cruz e Robert Koch (Foto: Roberto Jesus Oscar e Vinícius Pequeno de Souza/Acervo COC) |
Adelstano Soares de Mattos Porto d'Ave (Acervo COC) |
saiba mais da história do Hospital Gaffrée e Guinle acessando este link.
saiba mais da biografia de Porto D'Ave acessando este link.
Como podemos ver, o prédio segue a "onda" neocolonial dos anos 1920/anos 1930, quando se pretendia retomar elementos da gramática arquitetônica lusitana. O marco de lançamento do movimento neocolonial foi a conferência "A Arte Tradicional no Brasil" em 1914 na Sociedade de Cultura Artística de São Paulo pelo arquiteto e engenheiro português Ricardo Severo. Na conferência, Severo defende o estilo colonial brasileiro de raízes lusitanas como o verdadeiro estilo nacional, em contraposição ao ecleticismo e o revivalismo da arquitetura da época que, segundo Severo, representavam estilos estranhos à tradição brasileira. Este programa neocolonial tomou força na década de 1920, e teve seu declínio na década de 1930, quando começou o período da arquitetura modernista no Brasil. Saiba mais sobre o movimento Neocolonal nesta página da Wikipedia.
Todas as escolas públicas, e vários outros prédios públicos deste período seguiram esta tendência neocolonial. Muitas construções particulares da época, influenciadas pelas grandes construções públicas, seguiram também esta moda, principalmente nos bairros da região da Tijuca e Rio Comprido, tradicionalmente bairros com grande população de origem portuguesa, sejam imigrantes ou descendentes.
E como tal, não poderiam faltar azulejos na fachada destas novas construções. E no caso do Hospital Gaffrée e Guinle vemos um grande investimento em criar um pastiche do que o arquiteto entendeu como azulejaria portuguesa. O resultado não é feio, pelo contrário, acho muito bonito, mas não deixa de ser um pastiche, e como tal, algo meio sem vida, quase uma paródia. Nos painéis do hospital, é facilmente percebido que foram buscar no período Rococó a inspiração para a execução dos painéis.
É uma pena ver que estes belos painéis de azulejos, apesar de terem passado por uma "reforma" há não muitos anos, já estão novamente apresentando buracos e manchas. E eu digo "reforma", e não restauração, pois o trabalho foi muito mal feito, os azulejos foram posicionados sem a menor preocupação em remontar corretamente os desenhos, os azulejos novos, que foram feitos para repor os que se perderam tem vitrificação e brilho muito diferente dos originais.
Por mais que já tenha procurado, não consigo descobrir a autoria dos painéis de azulejos. Como existem vários outros painéis desta mesma época executados no Brasil, em princípio atribuo como uma criação nacional. Há nos arquivos de Manguinhos (fundação de pesquisa científica) um fundo com documentos, maquetes, plantas de Porto D'Ave, mas infelizmente me deslocar até aquele destino remoto apenas para tentar achar a autoria dos painéis ainda não me apeteceu.
Entretanto, cabe ressaltar que encontrei um registro no Diário Oficial da União, de 23/08/1925, que reporta a chegada de "109 caixas contendo azulejos de louça, destinadas á construcção do Hospital Gaffrée-Guinle, chegadas ao porto desta capital pelo vapor Santarém". O Vapor Santarém, do LLoyd Brasileiro, fazia rotas de passageiros e carga entre o Brasil e Europa. Não se sabe se estes azulejos eram para revestir as paredes dos ambulatórios e outras instalações internas ou se eram os azulejos para a decoração das fachadas dos prédios, nem sequer de onde estariam vindo tais azulejos.
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Hoje, 27/09/2012, fiz um novo post, com fotos dos azulejos dos fundos do hospital.
Achei muito interessante conhecer um pouco mais dos detalhes do HU em que frequento ha mais de 30 anos!!!
ResponderExcluirPena nao se ter verba para preservar. E quando o fazem não se mantem a tradiçao. Hoje parte da construçao é rosa e outras amarelas....
Queria saber sobre a história do terreno onde foi construído o hospital,a quem pertencia.
ResponderExcluirA família Guinle adquiriu azulejos do renomado artista português Jorge Colaço
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