domingo, 15 de maio de 2016

Circuito "Azulejos Antigos, Centro RJ" | Parte I

Fui convidado pelo site ArtRio a criar um circuito de azulejaria antiga no centro do Rio de Janeiro. O limite para estes circuitos é um máximo de 7 pontos de visita por roteiro, e mesmo me segurando muito, e editando ao máximo, acabei com 12 pontos, de forma que o circuito foi dividido em Parte I e Parte II. Aqui deixo com vocês a Parte I. Aviso desde já que este post será MUITO longo!

Em 2011 fui convidado a participar do projeto "Bordallianos do Brasil", o que me levou até Caldas da Rainha, em Portugal, para conhecer e reinterpretar a obra do grande e multifacetado artista português Bordallo Pinheiro. Depois de um mês no país, me tornei um apaixonado por tudo o que diz respeito à gente e às terras lusas. E se já era um interessado pela azulejaria, desde as aulas que tive em 2009 no Mestrado de Arqueologia do Museu Nacional (UFRJ), com a professora Dora Monteiro de Alcântara, autoridade máxima sobre azulejos antigos, a partir de então tornei-me um verdadeiro viciado nas plaquinhas coloridas e brilhantes. De volta ao Brasil, uma saudade sem limites me apertava o peito, e eu precisava achar um meio de, mesmo que apenas afetivamente, me manter em conexão com Portugal. E assim comecei a "caçar" os azulejos antigos no Rio de Janeiro.

Este roteiro apresente uma fração ínfima do que se pode encontrar em termos de azulejaria antiga no Centro do Rio de Janeiro. Até mesmo ao longo do caminho indicado neste roteiro, se você for atento, encontrará outras fachadas que não estão na lista.


PARTE I

1 - rua Visconde do Rio Branco 29/31 
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azulejos holandeses e portugueses
Aqui neste primeiro ponto do circuito há azulejos apenas no alto dos prédios, em suas platibandas, que podem facilmente escapar aos nossos olhos, ainda mais na correria de nossos dias. Os azulejos, tanto de padrão quanto de cercadura, são os mesmos nos dois prédios, o que me leva a crer que tiveram suas platibandas azulejadas na mesma época, muito embora o prédio azul, à esquerda, seja quase 30 anos mais jovem que o rosa da direita, o que demonstra que muitos prédios podem ter sido azulejados muito depois de construídos.



2 - rua Visconde do Rio Branco 21 
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azulejos holandeses
Como é relativamente comum em imóveis antigos azulejados no Rio de Janeiro, aqui temos os azulejos apenas no pavimento superior, sendo um padrão principal na fachada, e uma série de outros padrões compondo um friso decorativo abaixo da platibanda, com alguma diferenciação nos extremos do friso.




3 - rua Visconde do Rio Branco 16 
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azulejos holandeses
Novamente vemos aqui um imóvel que apresenta azulejos apenas nos pavimentos superiores. Neste percebemos uma configuração azulejar mais próxima da prática tradicional portuguesa: apenas um modelo de azulejo de padrão, e um único modelo de azulejo de cercadura. O azulejo de padrão é conhecido como "Estrela e Bicha", e é um dos padrões mais encontrados no Rio de Janeiro.




4 - rua Visconde do Rio Branco 14
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azulejos holandeses
Neste imóvel podemos observar mais uma vez o padrão "Estrela e Bicha", mas desta vez há azulejos também no térreo, acima dos arcos das portas. Enquanto no primeiro piso o padrão é emoldurado por apenas um padrão de cercadura, no térreo notamos que além da cercadura ser de um modelo diferente do que se vê no primeiro piso, foi empregado também um segundo padrão, usado como um rico emolduramento das reservas onde se encontram os azulejos do padrão "Estrela e Bicha".




5 - Rua do Lavradio 13/15
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azulejos holandeses
Aqui vemos um dos mais belos sobrados do centro antigo do Rio de Janeiro, na verdade dois sobrados geminados, recentemente restaurados. Eles agora abrigam um centro cultural privado, com exposições temporárias e programação de shows e palestras. Os sobrados apresentam azulejos em todos os pisos, na configuração tradicional de apenas um modelo como padrão e um modelo como cercadura.

Neste ponto do circuito recomendo aproveitar para uma pausa, e entrar nestes belos sobrados para apreciar a exposição permanente "Azul Cobalto – Azulejos e Memórias", que mostra a incrível coleção de azulejos de Nelson Torzecki. A exposição é composta por cerca de 100 painéis estruturados a partir de peças dos séculos XVI ao XX.




6 - Praça Tiradentes 52
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azulejos holandeses
Desta vez nos deparamos com o que talvez seja o prédio, ainda de pé, com a azulejaria mais complexa do Rio de Janeiro. Parace mesmo que estamos frente a um pequeno mostruário de azulejos. São sete modelos de azulejos de padrão, e dois de cercadura.
Este imóvel apresenta outra particularidade: a fachada dos fundos também recebeu azulejos. Esta fachada pode ser vista a partir da rua Luis de Camões.





7 - rua do Teatro 17
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azulejos holandeses e franceses (?)

Aqui não há mais propriamente um "imóvel", mas apenas a sua fachada. E uma fachada com azulejos muito particulares, o que só faz o desespero pelo seu estado atual ser ainda maior. Ela se encontra assim, em progressiva degradação e abandono, há muitos anos.
Os azulejos encontram-se apenas nos pisos superiores, sendo que a cada piso temos um conjunto diferente de azulejo de padrão e cercadura, e até mesmo de nacionalidades diferentes. No primeiro piso há azulejos holandeses, já no segundo piso encontramos azulejos provavelmente franceses.




10 comentários:

  1. Caro Fábio
    Obrigada por este passeio turístico. É preciso gostar muito de azulejaria para entender toda a sua versatilidade. Esta tarde estive numa exposição de um leilão de oportunidades e lá estava uma caixa cheia de azulejos, alguns pombalinos. A vontade de licitar é grande mas, depois surge o dilema- onde os colocar. A ver vamos...
    Mais uma vez, parabéns.

    If

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    1. Cara Ivete,
      Fico muito feliz por sua visita e comentário, e mais ainda em saber que o pequeno circuito lhe agradou.
      Que tentação este lote de azulejos no leilão!! Eu ficaria que nem barata tonta, sem saber o que fazer, pois para mim ainda haveria a questão de trazê-los para o Brasil, o que é até proibido, bem sei.
      abraços, e espero poder contar sempre com sua visita e comentários por aqui.

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  2. Bonita ideia esta Fábio. Mas não percebi bem a ideia se este roteiro será publicado em forma de livro ou ficará na apenas na net?

    Em todo o caso, julgo que terá que ser acompanhado por uma mapa das ruas do rio assinalando os sítios interessantes. Eu que sou um turista com uma fé inabalável nos bons guias de viagens, não dispenso um mapa com o trajecto proposto. Até mesmo para nós, os turistas virtuais, o mapa seria interessante.

    Um abraço de Lisboa

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    1. Olá Luis,
      Ficará online apenas, no hotsite de roteiros no Rio do site da ArtRio. Eu enviei para eles os links do Google street view/map. Não coloquei aqui para não poluir a página, que já ficou longa demais. Vou pensar então em acrescentar.
      abraços!

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    2. Pronto! com os links para o mapa ficou muito melhor. Eu começo por visitar uma cidade primeiro através do mapa e muitas vezes passam-se anos até que eu possa conhecer essa cidade realmente.

      Um abraço

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    3. Eh Luis! Como você foi rápido! :-)
      Que bom que gostou! Deu um trabalhinho isso, pois os prédios são muito próximos uns dos outros.
      abraços!

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  3. Bonita ideia esta Fábio.
    Para fazer percursos não há melhor, e uma cidade conhece-se assim mesmo, a pouco e pouco.
    Se estivesse por aí não iria perder estes percursos!
    Parabéns pela escolha
    Manel

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  4. Olá Fabio, parabéns pelo trabalho, teria uma foto da fachada da rua do teatro , 17? Ou saberia onde consigo?
    Muito obrigado

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    1. Caro Wallace,
      As fotos que disponho estão já publicadas aqui nesta postagem.
      abraços

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